O padre peruano Gustavo Gutiérrez, conhecido como o principal idealizador da Teologia da Libertação, faleceu na terça-feira, 22, aos 96 anos. A Província de San Juan Bautista confirmou a notícia do falecimento do sacerdote e teólogo.
“Pedimos que nos acompanhem em oração para que nosso querido irmão desfrute da vida eterna”, declarou em comunicado o frei dominicano Rómulo Vásquez Gavidia, provincial dos dominicanos no Peru. O corpo de Gutiérrez será sepultado no Convento de Santo Domingo, localizado no centro histórico de Lima, capital do Peru.
Nascido em 8 de junho de 1928, Gutiérrez foi ordenado sacerdote em 1959, aos 31 anos. Ele estudou teologia na Universidade de Louvain, na Bélgica, e também na Universidade de Lyon, na França. Ao longo de sua carreira acadêmica, foi professor em instituições de prestígio, como as universidades de Michigan e Berkeley, nos Estados Unidos, e Cambridge, na Inglaterra. Em reconhecimento a sua contribuição, ele recebeu o Prêmio Príncipe das Astúrias de Comunicação e Humanidades, concedido pelo governo espanhol, em 2003.
Gutiérrez é amplamente reconhecido como o maior expoente da Teologia da Libertação, um movimento de caráter progressista dentro da Igreja Católica que surgiu na década de 1970. Esse movimento impactou gerações de sacerdotes, intelectuais e até mesmo políticos, incluindo a formação do Partido dos Trabalhadores (PT) no Brasil.
Sua obra “Teologia da Libertação: Perspectivas” é considerada o ponto de partida do movimento. No livro, o teólogo menciona Karl Marx quase 20 vezes e afirma que “a luta de classes é um dos problemas cruciais que, presentes no mundo de hoje, afetam a vida e a reflexão da comunidade cristã, e não podem mais ser ignorados.”
Durante os anos 1980, Gutiérrez foi alvo de questionamentos pela Congregação para a Doutrina da Fé, devido a alguns de seus ensinamentos que entravam em conflito com a doutrina oficial da Igreja Católica. No entanto, nos últimos anos, ele conseguiu restabelecer suas relações com o Vaticano. Em 2018, quando completou 90 anos, chegou a se encontrar com o papa Francisco, um marco de reconciliação com a Igreja.