Moro na Zona Leste de São Paulo, onde temos um bordão engraçado e meio moleque que diz: “Tamo junto e misturado”. Mesmo que seja dita em tom de brincadeira ou absolutamente descontraída, a frase expressa a seguinte ideia: Eu e você somos um, amalgamados, unidos, incorporados, conciliados... Sujeitos a dores, medos, decepções, alegrias, tristezas, expectativas... Somos gente! Se precisar de mim, estou aqui. Estamos juntos. Se doer em você, ou se te alegrar... Estamos misturados.
Para mim, esse “jeito povão de ser” traz um sentimento que agrada a Deus. Mais: ele explica que de fato somos feitos do mesmo material e viemos da mesma raiz. Jesus nunca olhou para alguém com reprovação ou como alguém desprezível. De repente, ele até poderia - afinal, Ele era o Filho de Deus!
Não! Ele não se apegou ao seu título (ou títulos) que as Escrituras lhe atribuem para colocar ninguém em seu “devido lugar” inferior, ou seja, em sua insignificância diante do Todo-Poderoso. Gosto quando Ele diz: “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai” (João 15.15)
Com isso, Ele queria dizer: Sou Senhor sim, mas vocês são meus amigos. E por vocês, Eu vim. E pra vocês, Eu faço. E com vocês, Eu fico.
Vivemos em um mundo, onde nos deparamos como o nosso igual jogado na sarjeta. Ali come, ali defeca, ali dorme, ali sobrevive... É bem verdade que alguns se importam. Mas são poucos, muito poucos. Na verdade, não estamos com eles, juntos e misturados. Se estivéssemos, muito dessas tristes histórias seriam transformadas.
Dentro das igrejas também temos realidade semelhante. Os que são; os que não são. Os que podem; os que não podem. Os que têm amigos; os que estão isolados. Os que são acolhidos; os que são ignorados. Dentro da sinagoga Jesus pregou: “O Espírito do Senhor está sobre mim” (Isaías 61.1). Disse ainda, no mesmo texto:
“Porque eu, o Senhor, amo a equidade, e detesto o fruto da rapina” (v. 8a). Ele pregou e saiu. Falou a verdade e foi realizar sua obra. Todos aqueles que quiseram estar juntos e misturados com Ele não foram ignorados. Foram aceitos. Foram acolhidos. Foram importantes.
Assim, Ele andava, agregava, ensinava, amava. Sem grupinhos, mas com um grande rebanho que crescia e aprendia pelo exemplo. E continua crescendo e aprendendo. Jesus! Que figura! Que homem! Que Deus!
Mesmo podendo ser (e sendo) diferente, fez-se igual.
Ele bateu um dia na porta da casa do Zé ninguém. Foi lá, bateu papo, sorriu, ensinou, alegrou. Ele parou para conversar com uma mulher de outro povo, sem guerras, sem acusações, mas com a sabedoria e o conhecimento que eram necessários para levar cura – sem acusações – e esperança – sem ilusão – a um coração aflito, cansado e duvidoso de seu valor.
Com seus relacionamentos Jesus demonstrava que estava junto e misturado a todas aquelas pessoas. Principalmente àqueles que se sentiam pobres (em todos os sentidos), sozinhos, ignorados, abandonados, sem amigos, sem pastor...
Gente que passou a conhecer Aquele que havia sido profetizado por Isaías: o Emanuel, Deus conosco. Gente que não via nEle nenhuma beleza, nem formosura, mas que era atraída pelo olhar compassivo e pelas palavras de esperança e sem nenhuma pretensão, que não fosse o Amor. Sim, com “a” maiúsculo. Amor sem pedir nada em troca, a não ser o coração de filho.
Com isso, Ele estava continuamente declarando: “Desci para me misturar. Para sentir o mesmo que você. Para ter a experiência da lágrima e do riso; da angústia e da esperança; da vida e da morte”.
É isso, amigos. Jesus, o Filho misturado ao Pai, que por fim, decidiu, juntar-se ao homem. “Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é Santo: Num alto e santo lugar habito; como também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos.” (Isaías 57.15)