Perseguição aos cristãos na Nicarágua: Pelo segundo ano consecutivo, o governo da Nicarágua cancelou as tradicionais procissões da Semana Santa.
Em vez de permitir as expressões públicas de fé, o regime substituiu as celebrações por eventos promovidos pelo próprio Estado. Essa decisão revela, de forma clara, a intensificação da repressão religiosa liderada por Daniel Ortega e Rosario Murillo.
Além de proibir rituais centenários, o regime perseguiu líderes cristãos, fechou igrejas e instalou vigilância sobre os fiéis. Dessa forma, o governo mostra sua intenção de desarticular o papel da fé cristã no país.
Historicamente, a Quaresma e a Semana Santa marcaram momentos de forte manifestação religiosa na Nicarágua. Contudo, desde 2023, o governo passou a proibir as procissões e celebrações organizadas pelas igrejas. Em 2024, a repressão se intensificou.
Cerca de 4.000 policiais foram mobilizados com o objetivo explícito de impedir essas manifestações. Embora a população tenha se manifestado contra a decisão, o governo manteve a proibição. Como alternativa, o Estado organizou festividades próprias para ocupar os espaços antes usados pelos cristãos.
Por esse motivo, muitos enxergam essa substituição como uma forma velada de repressão à fé. Consequentemente, o cancelamento revela mais do que uma simples decisão administrativa. Ele representa um movimento calculado para enfraquecer a força espiritual da sociedade.
Infelizmente, essa tentativa de controle religioso não começou agora. Nos últimos anos, o regime intensificou o exílio forçado de padres, pastores e freiras. Em novembro de 2024, por exemplo, diversas congregações foram obrigadas a deixar o país.
Além disso, líderes religiosos passaram a ser interrogados com frequência. O governo passou a monitorar suas pregações e a restringir seus deslocamentos. Ao agir assim, o regime tenta silenciar qualquer voz cristã que contrarie seus interesses.
Segundo o exilado político Félix Maradiaga, o governo tenta impor uma igreja “oficial”, nos moldes da Igreja controlada pelo Estado na China. Portanto, a repressão não é isolada, mas parte de um plano ideológico mais amplo.
O controle estatal vai além das instituições religiosas. Muitos fiéis são fotografados ao entrar nas igrejas. Além disso, agentes infiltrados gravam cultos e monitoram conversas.
Durante a Cúpula Internacional da Liberdade Religiosa, realizada em Washington, um padre nicaraguense relatou que viaturas da polícia permanecem estacionadas diante das igrejas católicas todos os domingos. Essa presença ostensiva tem como objetivo intimidar a comunidade cristã.
Adicionalmente, o governo exige que os sacerdotes solicitem autorização prévia para pregar. Essa prática, portanto, reflete o modelo de censura comum em regimes autoritários. Não por acaso, a China, que adota medidas semelhantes, é uma aliada estratégica de Ortega.
A perseguição religiosa na Nicarágua já ultrapassou as fronteiras nacionais. Por esse motivo, os Estados Unidos incluíram o país na Lista de Países de Preocupação Particular (CPC). Essa designação permite a aplicação de sanções específicas contra regimes que violam a liberdade religiosa.
De acordo com a Comissão dos EUA para a Liberdade Religiosa Internacional (USCIRF), a situação da Nicarágua é “péssima”. O relatório mais recente menciona prisões arbitrárias, exílio forçado de líderes religiosos, fechamento de organizações cristãs e vigilância contínua.
Segundo os dados divulgados, o governo encerrou mais de 1.700 organizações. Dentre elas, ao menos 678 possuíam vínculos com comunidades cristãs. Esses números reforçam a gravidade do cenário atual.
A Lista Mundial de Perseguição de 2025, da organização Portas Abertas, também faz um alerta. Ela afirma que Ortega vê os cristãos como “inimigos do governo”. Contudo, as recentes alterações nas leis permitem rotular líderes religiosos como terroristas.
Apesar disso, a fé do povo permanece firme. A Nicarágua ocupa atualmente o 30º lugar no ranking de perseguição religiosa. No entanto, a resistência espiritual é visível.
Jon Britton Hancock, missionário injustamente acusado no país, declarou com convicção:
“Há um mover de Deus que, realmente, começou em 2023 e eles não podem impedir isso. Sei que Deus, literalmente, abalou toda a nação e estou convencido de que isso continua.”
Com mais de 20 anos de missão na América Central, ele tem esperança de que a fé prevalecerá.
A perseguição aos cristãos na Nicarágua é um alerta urgente para o mundo. Cancelar a Semana Santa pelo segundo ano consecutivo não é apenas uma medida de governo. Trata-se de uma tentativa direta de sufocar a fé de uma nação inteira.
Contudo, mesmo diante da opressão, a resistência espiritual segue viva. A liberdade religiosa é um direito humano universal e precisa ser defendido.