Desde o fim da pandemia de Covid-19, paróquias da Igreja da Inglaterra têm enfrentado uma queda preocupante no número de fiéis, somada ao fechamento de muitas igrejas históricas. O bispo de Chelmsford, Guli Francis-Dehqani, expressou que as congregações estão em estado de “pânico e medo” diante da diminuição no comparecimento.
De acordo com o The Guardian, dados de 2023 mostram que a frequência semanal às igrejas anglicanas caiu para 685.000, bem abaixo dos 854.000 de 2019, totalizando uma perda de 169.000 fiéis. Essa queda é ainda mais expressiva ao se comparar com os anos 1980, quando cerca de 1,3 milhão de pessoas frequentavam semanalmente. “Algo está claramente errado com as igrejas paroquiais”, comentou o colunista Simon Jenkins, ao apontar que esses edifícios “permanecem trancados, sem uso e sombrios, dia e noite”, o que só reforça o desafio da Igreja para se reconectar com a população.
Além disso, Jenkins observou que o custo de manutenção dos 16.000 templos anglicanos, dos quais 12.500 são prédios históricos, ultrapassa 1 bilhão de libras. Estima-se que de 3.000 a 5.000 igrejas estejam fechadas ou funcionando esporadicamente, o que dificulta o trabalho pastoral e o acesso ao culto nas comunidades locais.
Apesar das dificuldades, a Igreja busca renovar seu impacto por meio do evangelismo e da tentativa de atrair frequentadores às suas escolas primárias. Mas Jenkins alertou que, embora a Igreja tente reverter a situação, uma solução abrangente e sustentável para preservar tantas igrejas históricas sem recursos parece inalcançável. “Não é realista esperar que uma instituição de caridade nacional ou qualquer outra organização assuma o imenso desafio de reutilizar milhares de igrejas vazias”, argumentou.
Em meio ao declínio de fiéis, a Igreja da Inglaterra gerou controvérsias ao avançar com uma política de “bênçãos especiais” para casais do mesmo sexo em 2023, após votação no Sínodo Geral. Isso gerou reações de cristãos conservadores, como o evangelista Franklin Graham, que lembrou que o “pecado é a desobediência à Palavra de Deus”. Esta decisão reflete a busca da Igreja por se alinhar às demandas de inclusão social, embora desafie princípios conservadores e divida a opinião dos membros.
Um relatório recente do Centro de Teologia e Pesquisa de Plantação de Igrejas destacou que novas congregações estão abandonando o termo “igreja” em seus nomes e adotando linguagens modernas e alternativas. Contudo, o estudo alerta que essa inovação linguística está impactando a teologia anglicana, com divergências significativas entre as novas igrejas e a tradição na liturgia, sacramentos e organização.
Com uma sociedade britânica cada vez mais secular e a popularidade crescente de outras crenças, a Igreja da Inglaterra enfrenta um duplo desafio: o de manter viva sua herança cultural e o de buscar estratégias para revigorar a fé cristã no país.