Uma menina nascida trapo?
Não, que nada, foi nascida gente!
Nascida gente completa, plena de vida, potencial e expressividade.
Nascida gente para ser acolhida, incluída, instruída, amada, vista, amparada e cuidada.
No entanto, a menina nascida gente foi no trato virando trapo. Trapo objeto sem defesa, utilizado e subjugado, sujado, rasgado e largado. Trapo torcido e reutilizado... uma, duas, três, quantas vezes? Perdeu-se a conta.
Os anos passando e a menina em trapo só crescendo. De menina trapo transgrediu em mulher farrapo. Esfregada, torcida, beliscada, agredida seguiu rasgando e sangrando.
Quem dera o socorro tivesse vindo assim, rápido, de um olhar que a visse, não como trapo nem farrapo, mas como gente, e desde menina. Infelizmente demorou, mas felizmente o socorro abrolhou.
Inesperadamente, num certo dia a menina feita trapo e transgredida em mulher farrapo foi arrastada, jogada ao espetáculo e condenada à destruição, pronta para o descarte.
Mas, de repente alguém a viu para além do frágil figurino de um pano sujo e desgastado. Foi vista por olhos crísticos cheios de compaixão.
Aqueles olhos viram e compreenderam que os trapos e farrapos não eram sua essência. Eram apenas uma fardagem suja e desgastada que encruou nela rótulos de gente sem compaixão, desde menina e que foi se imiscuindo à sua identidade e valor como pessoa.
Aquele olhar de compaixão crística transpassou seu vestuário esfarrapado e enxergou sua imago dei gritando por novas vestes.
Após seu encontro com aquele olhar compassivo, as rotulagens de uma caricatura estereotipada, que não se alinhavam à sua essência, já não serviam mais.
Agora, novas vestes se harmonizam com sua alma. Vestes que se equalizam ao seu interior e anunciam que não é mais menina trapo e nem mulher farrapo, mas alguém profundamente amada e acolhida como pessoa que nasceu, não trapo, mas gente com centelha divina. E assim seguiu, com novas vestes, ressignificando sua existência no mundo.