Há mais de um ano, o movimento pela retirada do registro de comunidades indígenas cristãs na Índia ganhou força. A iniciativa de grupos radicais visa punir minorias em nove estados que se converteram a religiões minoritárias, como o cristianismo. Eles esperam, por meio da pressão, forçar os cristãos nos estados de Jharkhand, Odisha, Madhya Pradesh, Chhattisgarh, Rajasthan, Gujarat, Assam, Tripura e Maharashtra a voltarem ao hinduísmo.
Janjati Suraksha Manch (JSM, da sigla em inglês), uma das organizações que promovem a exclusão dos cristãos indígenas, tem levantado ativamente a questão da retirada do registro das minorias em todo o país e pressionado o governo atual, com protestos na rua e mensagens ao parlamento, para “retirar” as comunidades da lista de benefícios do governo.
O slogan do movimento que segue a ideologia hindutva diz em hindu “Kul devi tum jaag jao, dharmantarit tum bhag jaao”, cuja tradução seria “a divindade da família desperta, aqueles que se convertem a outra religião, saiam”. Líderes cristãos locais estão preocupados com o custo da campanha para a igreja, especialmente se ela se tornar uma lei.
O líder de uma igreja, cujo nome não pode ser revelado por segurança, disse à Portas Abertas: “Isso é motivo de preocupação, pois muitos cristãos recém-convertidos podem se desviar; as igrejas podem fechar devido ao medo de perder os direitos garantidos para as comunidades indígenas reconhecidas pelo governo”.
Lalit*, um parceiro local da Portas Abertas, conta que “nos estados do Nordeste, os radicais estão espalhando desinformação entre as comunidades indígenas contra os cristãos locais e missionários”. Em Manipur, o governo estadual continua a considerar retirar o registro de certas comunidades kuki-zomi, a maioria delas cristãs. A mesma iniciativa causou o conflito étnico-religioso violento em Manipur que completou um ano em 2024.
Os cristãos economicamente mais vulneráveis recebem as maiores ameaças. Alguns deles não recebem mais recursos do governo, como fornecimento de cestas básicas. Algumas crianças cristãs não estão sendo admitidas em escolas públicas e, com o avanço das medidas, muitos cristãos indígenas também serão privados de empregos e acesso às universidades, que antes lhes era garantido pelas cotas.
De acordo com a agência de notícais The Print, mais de 400 cristãos indígenas foram atacados e expulsos de suas casas entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023 na Índia. “Na verdade, os cristãos perdem oportunidades até mesmo de ter uma vida normal, pois, depois de serem retirados da lista, são expulsos de seu grupo étnico, não pertencendo mais à comunidade de onde vieram originalmente. O crescimento da igreja também será afetado porque os recém-convertidos terão medo de perder seus empregos e as cotas do governo de que precisam para sobreviver, e podem até tentar esconder sua fé cristã”, afirma Saagar*, outro parceiro local da Portas Abertas.