A palavra Eclesiastes deriva do termo grego ekklesia (assembleia) e significa “aquele que fala a uma assembleia. A palavra-chave de Eclesiastes é “vaidade,” e o tema central é a busca por algo de verdadeiro valor nesta vida.
Eclesiastes pertence ao gênero da Literatura de Sabedoria, assim como os livros de Jó, Salmos, Provérbios e Cântico dos Cânticos.
Quem escreveu Eclesiastes?
No versículo inicial de Eclesiastes, o autor se identifica como “Pregador” (Qoheleth), que é um termo hebraico geralmente traduzido como “aquele que reúne ou convoca uma assembleia.”
“Palavras do pregador, filho de Davi, rei em Jerusalém.” – Eclesiastes 1:1
Quem era Qoheleth? O primeiro versículo de Eclesiastes e a descrição no capítulo 2 sugerem que ele poderia ser o rei Salomão?
O propósito de Eclesiastes é mostrar como tentativas de encontrar significado na vida sem Deus são inúteis, levando o leitor a uma verificação da realidade sobre o que realmente importa.
Salomão colocou a chave para entender Eclesiastes logo no começo: “Vaidade de vaidades, diz o Pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade. Que proveito tem o homem de todo o seu trabalho, com que se afadiga debaixo do sol?” (1:2, 3).
Se alguém ainda não entender, ele repete essa chave no final “Vaidade de vaidade, diz o Pregador, tudo é vaidade” (12:8).
Nesses versículos, Salomão usa palavras e expressões importantes que aparecem várias vezes ao longo do livro, e é importante nos familiarizarmos com elas.
Apesar dos debates sobre a autoria, muitos elementos do livro refletem a vida e as experiências de Salomão. Além disso, as evidências sugerem a autoria de Salomão para o livro de Eclesiastes, como:
- Linhagem e Reinado: Eclesiastes 1:1 inicia com “Palavras do Mestre, filho de Davi, rei em Jerusalém”, referindo-se diretamente a Salomão, filho de Davi e rei em Jerusalém.
- Sabedoria e Riqueza: Salomão é conhecido por sua sabedoria e riqueza, características atribuídas a Qoheleth no texto (Eclesiastes 1:16; 2:7-9).
- Legado de Salomão: Salomão é o autor de outros livros de sabedoria na Bíblia, como Provérbios e o Cântico dos Cânticos, o que fortalece a associação com Eclesiastes.
O que o livro de Eclesiastes nos ensina?
1. Vivemos no tempo, mas fomos feitos para algo maior.
Embora nossa vida siga a linha do tempo (nascimento, vida e morte), Eclesiastes nos lembra que Deus colocou a eternidade em nosso coração, algo que não entendemos completamente (Ec 3:11). O Novo Testamento confirma isso, dizendo que veremos Deus claramente no futuro:
“Agora vemos como em espelho, obscuramente, mas então veremos face a face” (1 Coríntios 13:12).
Nosso desejo por algo além da vida é um presente divino para nos lembrar que “o que se vê é temporário, mas o que não se vê é eterno” (2 Co 4:18).
“Se sentimos um desejo que nada neste mundo pode satisfazer, provavelmente fomos feitos para outro mundo.”
2. A vida só tem sentido quando vivida com Deus.
Salomão tentou tudo para encontrar o sentido da vida: conhecimento, sabedoria, riquezas, trabalho, diversão, fama e paixão. No final, descobriu que tudo isso era vazio e sem sentido. Eclesiastes repete que buscar essas coisas se torna “uma corrida atrás do vento” (Ec 1:14).
Todos nós queremos ser felizes, mas a verdadeira felicidade vem de buscar a Deus. Lewis disse:
3. A alegria na vida vem da gratidão pelos presentes de Deus.
Embora a vida tenha dificuldades, também é cheia de beleza. Salomão, depois de experimentar todas as riquezas e prazeres, destacou a importância das coisas simples: família, comida, bebida e trabalho honesto.
Esses aspectos podem trazer satisfação temporária. Agradecemos a Deus por essas dádivas, pois “todo o bem perfeito é um presente de Deus” (Tiago 1:17).
Salomão aprendeu que apenas um relacionamento com Deus é verdadeiramente importante. Quando Deus é o centro, todos os dons são colocados em perspectiva e podem ser apreciados. Mesmo que não entendamos completamente a vida, podemos confiar na sabedoria de Deus (Ec 5:2).
Evidências a favor da autoria de Salomão
A tradição talmúdica judaica atribui o livro de Eclesiastes a Salomão. Segundo essa tradição, é possível que os escribas de Ezequias tenham editado o texto posteriormente (como sugerido em Provérbios 25:1).
A autoria salomônica também teve grande aceitação na tradição cristã, embora alguns estudiosos e o Talmude considerem que o texto pode ter sido revisado durante o reinado de Ezequias ou até mesmo na época de Esdras.
Do ponto de vista interno, o autor se identifica como “filho de Davi, rei em Jerusalém” (Eclesiastes 1:1-12). Salomão, sendo o descendente mais qualificado de Davi, teria a autoridade para se referir dessa forma.
Ele é descrito como o homem mais sábio que já ensinou em Jerusalém (1 Rs 4:29-30). As descrições das realizações de Qoheleth, como a busca pelo prazer (Eclesiastes 2:1-3), suas impressionantes conquistas (2:4-6) e sua imensa riqueza (2:7-10), correspondem diretamente ao que sabemos sobre o reinado de Salomão.
Além disso, os provérbios contidos em Eclesiastes são semelhantes aos encontrados no Livro dos Provérbios. Em Eclesiastes 12:9, diz que Qoheleth ensinou e compôs muitos provérbios, o que pode se referir às coleções salomônicas em Provérbios.
Evidências contra a autoria de Salomão
Por outro lado, há fortes argumentos contra a autoria salomônica. Martinho Lutero foi um dos primeiros a desafiar essa ideia, e muitos estudiosos bíblicos modernos concordam com ele. Vamos ver alguns pontos levantados por eles:
Identificação do autor: Em Eclesiastes 1:12, o autor se apresenta como “o pregador, rei sobre Israel em Jerusalém”. No entanto, Salomão nunca deixou de ser rei durante sua vida, o que torna essa afirmação suspeita. Além disso, em Eclesiastes 2:4-11, os feitos mencionados parecem referir-se a eventos passados, sugerindo que o autor estava escrevendo muito depois do reinado de Salomão.
Comparação de sabedoria: Em Eclesiastes 1:16, o autor afirma ter superado em sabedoria todos os que vieram antes dele em Jerusalém. Como Salomão precedeu apenas Davi como rei em Jerusalém, essa afirmação parece estranha se atribuída a Salomão.
Contexto histórico e linguístico: Muitos estudiosos modernos acreditam que o livro foi escrito no período pós-exílico, utilizando Salomão como uma figura literária para transmitir suas mensagens. Eles datam o livro entre 400 e 200 a.C. ou até mais tarde. A presença de palavras aramaicas no texto, que não eram comuns na época de Salomão, também levanta dúvidas sobre a autoria tradicionalmente atribuída a ele.